
Teresa Cristina é
sagrada, é sarcasmo, é poesia, é utopia, é rebeldia, é ventania, é alegria, é
anti pandemia, é, é, é, é... É soma, expansão, excesso de alegria, e remédio para
nostalgia.
Eu estava há algum tempo
para fazer essa declaração de amor, admiração e retribuição à existência da
artivista Teresa Cristina, mas não estava conseguindo, nem sabia por onde
começar a falar da grandeza, da existência iluminada, da resistência necessária
e generosidade de TT. Me autorizo a chamá-la assim, afinal eu participo das
lives da leveza desde quanto era tudo mato, quem é “Cristenders” vai
entender... Há uma cumplicidade e amorosidade entre seus fãs, amigos,
conhecidos, admiradores que se espraia, no ao vivo da transmissão, e que nos
aproxima da artista e ativista engajada em produzir coisas belas e justas.
E desde o momento
que o Brasil ficou doente de covid-19, as lives de TT acontecem. Com suas
regras próprias e princípios inegociáveis, qual sejam: ser munição antifascismo,
racismo e todo tipo de fobia e, assim, ser visão, alegria, rebeldia, poesia,
fantasia, harmonia, política do amor e da amizade.
Ao final de cada gira virtual, meu corpo
reverbera os encontros e despedidas e algo pede passagem, um por vir...
Eis que chegou o dia das Minas Gerais. Sim, “minha
live, minhas regras”. Live de TT não é bagunça não, tem regras, temas e outras
travessias e travessuras mais.
A cada noite, às
22hs, em ponto, e o ponto é quando a cerveja está no grau, os petiscos,
salgadinhos e outras ofertas de seus amigos mais próximos ou seu fã clube
oficial, o “Cristiners”, aí começa a roda. O tema é sempre anunciado no dia
anterior, e dos vários temas que passaram na passarela, o tema de Minas Gerias
foi “O” gatilho. Gatilho que move, gatilho sagrado! E na noite de terça-feira foi
embalado pela presença luxuosa da escritora Conceição Evaristo.
Ela que na noite dedicada à Bahia,
foi gatilho para a portelense vascaína, que canta brilhantemente a Mangueira das
Marias, Mahins, Marilles e malês[2], e que se sentiu convocada a prestar homenagem à terra de tantas esquinas musicais, também foi insPiração para eu fazer essa declaração-memória às noites com TT. Noite de reverência à vida e obra de Conceição Evaristo
também, a autora de A noite não adormece nos olhos das mulheres, poema
dedicado à amiga Beatriz Nascimento, e mais um arsenal de escritas ancestrais,
musicais, tão fortes e tão belas.
Ah,
como eu precisava dar passagem aos afetos provocados por esses encontros
noturnos em meio esta pandemia que nos assusta, por vezes paralisa. Vírus
devastador, que a cada dia nos tira alguém, de perto ou de longe, que também tem
desmascarado tantas injustiças históricas, tantas mazelas sociais, que nos desafia
dia a dia e das mais variadas formas e graus. Que é implacável com os que ainda
não conseguiram acessar o direito de quarentenar, sem a preocupação de perder a
vida para o vírus da injustiça e do acoite. Só mesmo com muita teimosia, autonomia,
valentia e poesia é possível enfrentar a atual pandemia. Assim é que a Cantora
e a Poeta me convocaram a partilhar, por meio desta escrita, os encontros com a
voz de quem conhece o Brasil, de quem está cantando o Brasil. De quem, todas as
noites, nos oferece um sorriso negro, um abraço negro e nos traz
felicidade, como cantou e ainda canta D. Ivone Lara.
Viver é desobedecer!
Viver é enaltecer as vozes dos vários brasis, e cantar as suas vidas como uma
forma de manter vivo uma memória musical e uma existência-resistência. Teresa
faz isso com maestria, harmonia, alegria e Orquestra...
Resistir é
necessário! Militar é se afetar! Sorrir é libertário! Resistir é insistir nos
encontros poÉticos!
Eles
podem até nos roubar as eleições no grito, na bala, no golpe. Eles podem até
fingir que nós não existimos. Eles, que são desalmados, não sabem que
continuaremos com a roupa encharcada e a alma repleta de chão[4]...
As nossas memórias nos pertencem!
Não
por acaso, a cada live a expectativa é aprender, cantar e celebrar a vida e
ainda ter a real possibilidade de grandes encontros, da “aparição” de quem
pactua com a política da alegria revolucionária que a música proporciona. A
cada noite a expectativa também é de:
será que eles vêm aqui
cantar as canções que a gente quer ouvir...[5]
E
ao final de cada live, ela agradece, nos acolhe e parece nos dizer:
Se eu cantar não chore não, é só poesia[6]...
Teresa
Cristina, Cristiners, CrisTinder é pura poesia! É pura teimosia!
Em
tempos de quarentena, esse é um convite a livitar com TT e também a cuidar de
TT, que tanto nos acalanta e encanta nas noites pandêmicas, na cadência
bonita do samba[7]...
É um convite a ouvir o lado A e o lado B de TT!
A
cada encontro, ela se move de um jeito. Sagrado...
A
noite dedicada às esquinas de Minas, foi um presente! Teresa Cristina é
presença!
A
“grande” política tem muito o que aprender com a micropolítica afetiva de TT,
com a filha do feirante e da cantante. A música não é pouca coisa, nunca foi e
nunca será! A poesia não envelhece, nem adormece, não morre jamais! É munição
contra os vírus da opressão! E o canto de Teresa Cristina é pura teimosia
contra a paralisia que insiste em nos rodear nesses tempos de pandemia e de
cale-se.
TT como uma espécie de artista vinda
do filme Bacurau, nos oferece um poderoso psicotrópico, cuja base é a POESIA.
Portanto, se você for ver TT, ouvir TT, cantar com TT, cuidar de TT, vá na
paz, sem medo!


Ana Silva
Belém,
05/05/2020 06/05/2020
@anaesquizo
[1] Beto Guedes
[2] Samba enredo da Estação
Primeira da Mangueira, 2019.
[3] Milton Nascimento.
[4] Milton Nascimento.
[5]Tavito.
[6] Lô Borges
[7] Ataulfo Alves e Paulo Gesta.
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