quarta-feira, 27 de maio de 2020

                         Tudo que move é sagrado...[1]




Teresa Cristina é sagrada, é sarcasmo, é poesia, é utopia, é rebeldia, é ventania, é alegria, é anti pandemia, é, é, é, é... É soma, expansão, excesso de alegria, e remédio para nostalgia.
Eu estava há algum tempo para fazer essa declaração de amor, admiração e retribuição à existência da artivista Teresa Cristina, mas não estava conseguindo, nem sabia por onde começar a falar da grandeza, da existência iluminada, da resistência necessária e generosidade de TT. Me autorizo a chamá-la assim, afinal eu participo das lives da leveza desde quanto era tudo mato, quem é “Cristenders” vai entender... Há uma cumplicidade e amorosidade entre seus fãs, amigos, conhecidos, admiradores que se espraia, no ao vivo da transmissão, e que nos aproxima da artista e ativista engajada em produzir coisas belas e justas. 
E desde o momento que o Brasil ficou doente de covid-19, as lives de TT acontecem. Com suas regras próprias e princípios inegociáveis, qual sejam: ser munição antifascismo, racismo e todo tipo de fobia e, assim, ser visão, alegria, rebeldia, poesia, fantasia, harmonia, política do amor e da amizade.
 Ao final de cada gira virtual, meu corpo reverbera os encontros e despedidas e algo pede passagem, um por vir...
 Eis que chegou o dia das Minas Gerais. Sim, “minha live, minhas regras”. Live de TT não é bagunça não, tem regras, temas e outras travessias e travessuras mais.
A cada noite, às 22hs, em ponto, e o ponto é quando a cerveja está no grau, os petiscos, salgadinhos e outras ofertas de seus amigos mais próximos ou seu fã clube oficial, o “Cristiners”, aí começa a roda. O tema é sempre anunciado no dia anterior, e dos vários temas que passaram na passarela, o tema de Minas Gerias foi “O” gatilho. Gatilho que move, gatilho sagrado! E na noite de terça-feira foi embalado pela presença luxuosa da escritora Conceição Evaristo.
Ela que na noite dedicada à Bahia, foi gatilho para a portelense vascaína, que canta brilhantemente a Mangueira das Marias, Mahins, Marilles e malês[2],  e que se sentiu convocada a prestar homenagem à terra de tantas esquinas musicais, também foi insPiração para eu fazer essa declaração-memória às noites com TT. Noite de reverência à vida e obra de Conceição Evaristo também, a autora de A noite não adormece nos olhos das mulheres, poema dedicado à amiga Beatriz Nascimento, e mais um arsenal de escritas ancestrais, musicais, tão fortes e tão belas.
Ah, como eu precisava dar passagem aos afetos provocados por esses encontros noturnos em meio esta pandemia que nos assusta, por vezes paralisa. Vírus devastador, que a cada dia nos tira alguém, de perto ou de longe, que também tem desmascarado tantas injustiças históricas, tantas mazelas sociais, que nos desafia dia a dia e das mais variadas formas e graus. Que é implacável com os que ainda não conseguiram acessar o direito de quarentenar, sem a preocupação de perder a vida para o vírus da injustiça e do acoite. Só mesmo com muita teimosia, autonomia, valentia e poesia é possível enfrentar a atual pandemia. Assim é que a Cantora e a Poeta me convocaram a partilhar, por meio desta escrita, os encontros com a voz de quem conhece o Brasil, de quem está cantando o Brasil. De quem, todas as noites, nos oferece um sorriso negro, um abraço negro e nos traz felicidade, como cantou e ainda canta D. Ivone Lara.
Viver é desobedecer! Viver é enaltecer as vozes dos vários brasis, e cantar as suas vidas como uma forma de manter vivo uma memória musical e uma existência-resistência. Teresa faz isso com maestria, harmonia, alegria e Orquestra...
Resistir é necessário! Militar é se afetar! Sorrir é libertário! Resistir é insistir nos encontros poÉticos!
É micropolítica dos afetos! É amizade guardada no lado ESQUERDO do peito.[3]
Eles podem até nos roubar as eleições no grito, na bala, no golpe. Eles podem até fingir que nós não existimos. Eles, que são desalmados, não sabem que continuaremos com a roupa encharcada e a alma repleta de chão[4]... As nossas memórias nos pertencem!
Não por acaso, a cada live a expectativa é aprender, cantar e celebrar a vida e ainda ter a real possibilidade de grandes encontros, da “aparição” de quem pactua com a política da alegria revolucionária que a música proporciona. A cada noite a expectativa também é de:
 será que eles vêm aqui
 cantar as canções que a gente quer ouvir...[5]
E ao final de cada live, ela agradece, nos acolhe e parece nos dizer:
 Se eu cantar não chore não, é só poesia[6]...
Teresa Cristina, Cristiners, CrisTinder é pura poesia! É pura teimosia!
Em tempos de quarentena, esse é um convite a livitar com TT e também a cuidar de TT, que tanto nos acalanta e encanta nas noites pandêmicas, na cadência bonita do samba[7]... É um convite a ouvir o lado A e o lado B de TT!
A cada encontro, ela se move de um jeito. Sagrado...
A noite dedicada às esquinas de Minas, foi um presente! Teresa Cristina é presença!
A “grande” política tem muito o que aprender com a micropolítica afetiva de TT, com a filha do feirante e da cantante. A música não é pouca coisa, nunca foi e nunca será! A poesia não envelhece, nem adormece, não morre jamais! É munição contra os vírus da opressão! E o canto de Teresa Cristina é pura teimosia contra a paralisia que insiste em nos rodear nesses tempos de pandemia e de cale-se.


Ana Silva
Belém, 05/05/2020 06/05/2020
@anaesquizo




[1] Beto Guedes
[2] Samba enredo da Estação Primeira da Mangueira, 2019.
[3] Milton Nascimento.
[4] Milton Nascimento.
[5]Tavito.
[6] Lô Borges
[7] Ataulfo Alves e Paulo Gesta.

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