quinta-feira, 17 de julho de 2008

Noite



Às vezes não quero dormir só pra ficar um pouco mais comigo mesma
Sinto falta de mim na claridade
Sei que amanhã não vou querer saber de mim tão cedo,
é sempre assim
A cada noite que se vai é mais um dia que se esvai
Por que não é tudo noite?

sábado, 5 de julho de 2008

Sábado

Hoje é sábado, ta meio assim...
Quando as palavras faltam, só nos resta calar.
Calar, sublimar para a alma acalmar...
Mas como sublimar um coração que insiste em disparar, em desanuviar, em desacatar? “Que não tem governo e nem nunca terá”?.

Parafraseando Gordon Comstock do romance de George Orwell: “Desaparecer, desaparecer! Desaparecer no macio e seguro ventre da terra, onde não há empregos a serem conquistados e perdidos, amigos ou parentes para nos perseguirem, onde não há esperança, medo, ambição, honra ou dever – cobranças de qualquer espécie. Era onde eu queria estar”

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Psicanálise

Pra quem ainda não a conhece, essa é Maria Rita Kehl. Pensei em postar uma parte desse texto, mas confesso que foi impossível.

Por uma vida menos banal
Por Maria Rita Kehl

Sou psicanalista há mais de vinte anos, mas até hoje me espanta que as pessoas ainda procurem a psicanálise para tentar resolver seus conflitos, sair do sofrimento repetitivo, decifrar seus sintomas. Não que eu duvide da eficácia da psicanálise - pelo contrário. O que me espanta é que tanta gente ainda escolha o percurso lento e sofrido de uma psicanálise nesses tempos de terapias breves, guias de auto-ajuda, medicações milagrosas. A psicanálise é o avesso da pressa. Sua eficácia difere radicalmente da eficiência pragmática tão cara à nossa cultura neoliberal. O psicanalista não aconselha, não promove o ego de ninguém, não alivia (quase) nada. Numa outra vertente ideológica, o psicanalista diverge também do guru complacente, a conduzir seus adeptos pelos caminhos da morada interior, onde supostamente viveria o 'verdadeiro eu' - essa ficção tão cara à modernidade. Por isso ela me parece desajustada à vida contemporânea, na qual se acredita que um 'ego' bem cultivado seja condição do sucesso e da inclusão social. Afinal, a psicanálise também é o avesso do universo de imagens fulgurantes em que vivemos hoje, e com as quais tentamos nos identificar; ela é o império do significante, da palavra com seu fundo falso, sua parcela de vazio e de nonsense. Por fim, o objeto da psicanálise é o desejo inconsciente, não o'ego'. Não é confortável habitar o terreno do desejo inconsciente. Não é parecido com o palacete narcísico da 'morada interior', abrigo do (suposto) eu verdadeiro que alimenta as aspirações individualistas. No terreno escorregadio do desejo, o sujeito é um eterno sem-teto: vive acampado, nômade, mudando sua tenda de cá para lá de acordo com os ventos e as chuvas. É que o desejo inconsciente não é uma 'coisa' de que o analisando possa se apoderar e controlar, como um habitante incômodo da casa ao qual se reserva um quartinho nos fundos para que ele não perturbe o andamento geral das coisas. Nem é o que se chama hoje, vulgarmente, de desejo (sexual), ou seja: as fantasias (explícitas) de consumo e sexo que apelam para nós de fora para dentro, nos objetos e mensagens da indústria cultural. O efeito de uma psicanálise não é o controle racional do inconsciente, nem a 'realização' do desejo; não é liberar o sujeito da incômoda presença do desejo inconsciente, e sim propiciar que ele suporte desejar.Neste sentido, a psicanálise me parece um tanto anacrônica. No aparente império do desejo em que vivemos, onde cada um se acredita no direito ('você merece'!, dizem as mensagens publicitárias) de realizar imediatamente todas as fantasias, a maior parte das pessoas parece ter vergonha de desejar. Por isso escrevi que o império do desejo é aparente: vivemos mesmo é no império do gozo - 'tudo ao mesmo tempo agora' - em que o desejo, que se realiza no trabalho de simbolização e não na posse das coisas, não tem muito lugar. Repito o que escutei em uma conferência do filósofo esloveno Slavoj Zizek: uma das tarefas fundamentais do psicanalista, hoje, é autorizar o analisando a não gozar - e se manter desejante. Nesse sentido, o dispositivo analítico - que mudou muito pouco em um século de existência - deve operar em uma direção oposta à dos tempos de Freud. Hoje já não se trata tanto de permitir a expressão das fantasias inconscientes recalcadas (cujo conteúdo era impensável para a moral vitoriana), e sim de levar o analisando a se perdoar por não conseguir realizar a profusão de fantasias que circulam nas mensagens e apelos da indústria cultural. Não se trata de proibi-lo de gozar e sim de autorizá-lo a não gozar. Pois o imperativo do gozo é tão severo e tão exigente quanto a proibição a toda forma de gozo. O super-eu, instância crítica e sádica que atormenta o eu com suas normas rígidas e suas ameaças de castigo, tanto obriga a gozar quanto proíbe o gozo. Do ponto de vista do supereu, o imperativo: 'goza!' é tão severo quanto a proibição: 'não goza!'. Autorizar o sujeito a não gozar é muito diferente de proibir o gozo: é trabalhar para que ele possa se libertar da relação de servidão com o supereu.Na contracorrente do senso comum, muita gente continua procurando os consultórios dos psicanalistas atrás de um tipo de tratamento que, se não é o mais eficiente, a meu ver é o mais ético, já que ao sair de uma análise o sujeito deve ser capaz de se responsabilizar pela sua condição desejante. O que me espanta é que a sedução dos dispositivos de adaptação das pessoas à cultura do narcisismo e do consumo ainda encontre resistências entre os que procuram os consultórios dos psicanalistas. Não: a palavra 'resistência' lembra sacrifícios, barreiras morais, ascese, recusa do prazer. As pessoas não procuram a psicanálise para 'resistir' aos prazeres oferecidos pela sociedade do espetáculo e do consumo. Procuram análise porque não conseguem se adequar a eles. É claro que cada candidato a uma análise tem suas queixas e seus sintomas particulares. Mas escuto com muita freqüência queixas do tipo: 'eu não consigo me divertir tanto quanto eu deveria'. As pessoas, maduras ou jovens (acho que os jovens sofrem mais) vivem em dívida com o gozo. Alguém disse, uma vez: 'é como se em algum lugar estivesse acontecendo uma festa espetacular, onde todos estivessem se divertindo além de todos os limites, só que eu não tenho o endereço'. O neurótico, hoje, não se sente um pecador, um impuro, como no início do século XX: sente-se otário. Barrado no baile. A psicanálise é a cura dos otários? Talvez sim: só que o psicanalista não oferece o endereço da tal festa a ninguém. Ele nem sabe o endereço. No máximo, o analista sabe que o cara que se imagina otário não está perdendo festa nenhuma; a festa do gozo permanente não é proibida, nem é restrita aos mais espertos. Ela é simplesmente impossível de se realizar. Mas isso, o analisando vai descobrir por ele mesmo se quiser deixar de ser otário.

Disciplina é liberdade...



“E há tempos nem os santos têm ao certo a medida da maldade”.
Medida! Ultimamente venho refletindo a respeito dessa palavra, medida: medida cautelar, medida provisória, medida socioeducativa, enfim. Que medida estamos tomando pra cuidar dos jovens do Brasil e do mundo? Serão necessárias mais medidas ou temos que tomar atitudes desmedidas? Des(temidas)?
“Há ferrugem nos sorrisos”. Há ferrugens das grades nos sorrisos de “nossos” jovens.

domingo, 25 de maio de 2008

Marajó


Esse é o americano. Ele mora na Ilha do Marajó, às margens do rio Paracauari. Essa é uma das minhas imagens preferidas, talvez pelo contraste nela presente e pela contradição que me causou: me vi apaixonada por um americano. Vocês precisam sentir o cheiro desse filho do Marajó; não é um cheiro neoliberal; não é o "cheiro do ralo". Ele gosta de água. Gosta de comer mamão com casca, de passear pelas margens (tal como eu gosto) do rio; gosta de visitar o Sulcoreano. Eu o conheci durante viagem àquela Ilha, por ocasião do feriado da Semana Santa, em 2006. Ele "sentou pra descançar como se ouvisse música".

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Estrada


Quem me conhece mais amiúde sabe da minha paixão, tesão por Jeep. Esse veículo de quatro rodas e de muitas fronteiras. Talvez o que me atraia nesse objeto seja o não convencionalismo, o romper fronteiras, o andar pelas margens, por onde geralmente não se circula; fazer o caminho que os outros (carros!?) não o fazem.
“Quando eu morrer se eu não for pro céu eu vou lá pro Marajó”... E de Jeep, é claro!!!
Ah! O Marajó, a minha outra paixão... Jeep, Marajó, Dalcídio Jurandir, chuva, campos, cachoeira, terra, desejo, Americano (um brasileiro), saudade. Saudade!!!

segunda-feira, 12 de maio de 2008

O carteiro, o poeta e a fábrica



Assim como tem coisas que me deixam triste, tem outras que me emocionam, que me deixam em estado de graça, como a cena acima. Essa foto foi tirada no ano passado em uma atividade realizada por um grupo de alunos da FAZ que se arvorou a estudar o sentimento ambivalente que o trabalho provoca: prazer e dor.

A fábrica

Tem coisas que me afetam sobremaneira, como por exemplo, ver um sujeito trabalhador almoçar às 15h30min em seu locus de trabalho e, solitariamente. Sim, pois o momento das refeições para mim particularmente é pra ser compartilhado stricto sensu, pois de outra forma a comida não irá alimentar a alma, fará outro caminho, não sei qual... Talvez, tal cena tenha me remetido a outra, vivenciada anteriormente, onde o operário não tendo onde fazer suas refeições e nem com quem compartilhar seu estranhamento, sentou-se em um canto e se alimentou (?), solitariamente.
Hoje o contexto era outro, a começar pelo ambiente físico, lugar social, posição hierárquica etc. Mas o sabor da comida me pareceu familiar. Cheguei a sentir o gosto amargo de outrora. A fábrica parece que mudou, mas o chão continua o mesmo.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

1° de maio

Pensei em dar o título para essa postagem de grupelhos ou grupúsculos, em uma versão mais atualizada. Depois resolvi dedicar a mim e a ti, trabalhador e aos que não tendo acesso ao trabalho (mesmo o trabalho estranhado) sentem DOR. Vamos ao que interessa:
Estou neste mundo por uma causa, e a cada dia tenho mais clareza de que “gente é pra sorrir”, como dizia Caetano, nos bons tempos, é claro... Aos que ainda não me decifraram... não precisei, graças a Guatarri, adentrar ao interior dos partidos par-tidos para descobrir que “os monomaníacos da direção revolucionária conseguem, com a cumplicidade inconsciente da base, mobilizar o investimento militante em impasses particulares. É o meu grupo, minha tendência, meu jornal, nós é que temos razão, minha linha, criamos uma pequena identidade coletiva encarnada em nosso líder local... Não havia todo esse tormento em maio de 1968!”

Felix Guatarri

Fim de tarde

Uma biqueira é sempre inspiradora,
Numa tarde de chuva então...
Uma biqueira, um blues , uns amigos libertários e um peixe solidário
E a noite, não se fez de rogada, surgiu e logo anunciou a madrugada
Embriagada, encabulada, descortinada!!